Em uma conversa exclusiva com o Portal da Ortopedia, o renomado ortopedista e ex-atleta olímpico, Dr. João Grangeiro, compartilha sua vasta experiência na área da medicina esportiva. Com uma carreira marcada pela paixão pelo esporte e pela saúde dos atletas, o Dr. Grangeiro nos oferece insights valiosos sobre os desafios e as conquistas da medicina esportiva.
Uma trajetória marcada pelo esporte
Dr. João Grangeiro, ex-atleta olímpica de vôlei em 1980, iniciou sua jornada na medicina com uma profunda conexão com o esporte. Sua formação em traumato-ortopedia e especialização em cirurgia do joelho em Lyon o levaram a uma carreira dedicada ao cuidado dos atletas de alto rendimento. Sua experiência como diretor do Comitê Olímpico Brasileiro e médico da Confederação Brasileira de Vôlei o proporcionou uma visão única dos desafios da medicina esportiva em grandes eventos.
A identificação com o esporte é muito grande dentro da minha carreira.
Afirma o Dr. Grangeiro.
Os Jogos Olímpicos do Rio 2016: um desafio único
Ao relembrar a gestão durante as Olimpíadas do Rio 2016, o doutor Grangeiro revelou a magnitude dos desafios encontrados, especialmente na coordenação de mais de mil voluntários que prestaram assistência a um público estimado em um milhão de pessoas, incluindo atletas, delegações e espectadores.
Nós montamos uma estrutura nos locais de competição, uma policlínica de mais de mil metros quadrados dentro da Vila Olímpica dos Atletas.
Explica.
Um dos casos mais marcantes durante os Jogos envolveu um jogador de handebol alemão que sofreu uma síndrome compartimental. A rápida intervenção da equipe médica evitou a perda da perna do atleta.
A história que me vem assim na cabeça mais marcante seja relacionada a um jogador de handbol. Esse jogador de handebol da Alemanha, eu estava na policlínica, no setor de emergência da policlínica, recebo um telefonema do chefe médico da delegação alemã pedindo urgentemente que nós mandássemos uma ambulância para lá para que esse atleta pudesse vir à policlínica para que ele pudesse fazer uma imagem, porque só o aparelho de ressonância magnética nós tínhamos dois dentro dessa policlínica. E eu ouço os berros do atleta no telefone. E aí, imediatamente, diante daquele cenário, eu mando a ambulância e peço que essa ambulância não vá para a policlínica, vá diretamente para o Hospital Vitória, que era o hospital lá na Barra da Tijuca, muito perto da Vila Olímpica, para fazer o atendimento desse atleta. Esse atleta chega lá em questão de minutos, e em mais alguns minutos esse atleta já estava dentro do centro cirúrgico, ele estava fazendo uma síndrome compartimental enorme na coxa por causa de uma lesão muscular grave que ele teve, uma pancada que ele teve na coxa durante o jogo, e aquele hematoma ali se avolumou de uma tal maneira rápida que ele estava fazendo uma síndrome compartimental, e que se a gente não tem uma estrutura prontamente e eficiente para atender esse atleta, esse atleta tinha risco, inclusive, de perder essa perna. Então talvez seja esse o caso mais emblemático, e junto com aquele também que tomou conta da mídia, que foi aquele atleta da ginástica francês que sofreu uma fratura quando ele fez aquela manobra na antiga ginástica olímpica. Aquilo ali era uma fratura de estresse, sem dúvida alguma, que com o movimento feito ali se agravou, e em quatro horas esse atleta já estava, inclusive, operado a fratura fixada e esse atleta já estava operado. Quer dizer, então foi uma operação tremendamente resolutiva.
Conta Dr Grangeiro.
Lesões comuns e abordagens de tratamento
Explorando os aspectos clínicos, o doutor abordou as lesões ortopédicas mais comuns entre atletas de alto rendimento, ressaltando tendinopatias, fraturas de estresse, entorses e lesões musculares como ocorrências frequentes, notando a importância do diagnóstico precoce e do tratamento cirúrgico e não cirúrgico.
Hoje nós temos a oportunidade de fazer o diagnóstico precoce, então a evolução que houve no campo do diagnóstico foi muito grande
Afirma o Dr. Grangeiro.
O futuro da medicina esportiva
Ao aconselhar novos profissionais interessados na medicina esportiva, Dr. Grangeiro delineou as diferenças entre as áreas clínica e traumatológica, fornecendo orientações específicas para os que desejam se especializar na ortopedia esportiva, além de compartilhar sua visão em relação ao futuro dessa interseção, destacando a entrada iminente de práticas ortobiológicas como uma evolução relevante.
Eu vejo num futuro muito próximo também a vinda dos ortobiológicos.
Destaca.
Desafios atuais e cuidados com os atletas
Em meio a considerações sobre os desafios pós-pandemia no esporte, enfatizou a necessidade de aprimorar estratégias de recuperação e cuidados para garantir a saúde e o desempenho dos atletas, destacando a importância de reconhecer limites individuais e evitar o abuso de substâncias que manipulem a percepção de cansaço.
Eu acho que a gente precisa entender um pouco mais dessa questão da recuperação e ter, de fato, determinadas ferramentas que a gente possa estar medindo de uma maneira bastante precisa o que está havendo de saturação nesses atletas.
Afirma Dr Grangeiro.
Um convite aos colegas
Para finalizar, o Dr. Grangeiro convida todos os ortopedistas a participarem do próximo congresso da Sociedade Brasileira de Traumatologia do Esporte, que acontecerá em Fortaleza.
A gente promete a todos vocês que se interessarem em participar desse congresso, muita atualização, muita discussão, muita troca de informação na traumatologia do esporte!