Em uma conversa inspiradora com a Dra. Natália Mourão, ortopedista reconhecida e especialista em pé e tornozelo, abordamos sua trajetória, os desafios enfrentados e seus conselhos para as novas gerações. Dra. Natália compartilhou suas experiências e reflexões, revelando o que é ser uma mulher em um campo historicamente dominado por homens.
Formação e trajetória: o início da paixão pela ortopedia
Quando questionada sobre o que a motivou a seguir a carreira de ortopedista, Dra. Natália explicou:
Desde a faculdade, notei que eu tinha uma facilidade em aprender a Ortopedia e as alterações do aparelho musculoesquelético. Escolhi a especialidade em que eu acreditava que poderia reunir minhas melhores qualidades, atendimento ao paciente e o tratamento dos distúrbios musculoesqueléticos.
Sobre sua formação, a profissional destacou a importância de seu ambiente familiar:
Venho de uma família de médicos, meus pais são médicos e meus avós também eram médicos. Acredito que por esse motivo tive muito apoio da minha família, que entendia e me ajudou muito neste processo.
Contudo, ela também enfrentou desafios significativos.
Atualmente sou titulada em Ortopedia e Medicina Esportiva, fiz ortopedia no Hospital Central da Polícia Militar onde tive a incrível oportunidade de ter professores ortopedistas que são expoentes na especialidade. Porém como única mulher em um grupo exclusivamente masculino, tive um desafio um pouco maior do que apenas a sobrecarga de trabalho natural da residência de ortopedia.
Evolução da ortopedia: avanços e novas abordagens
Natália também comentou sobre a evolução da ortopedia ao longo de sua carreira:
Acredito que a minha geração de ortopedistas está tendo a oportunidade de viver um período de transição, estamos passando de uma era extremamente cruenta e cirúrgica para um momento em que os tratamentos menos invasivos estão emergindo.
Neste momento dentro da ortopedia vejo cada vez mais espaço para os tratamentos regenerativos, ondes de choque, infiltrações e procedimento minimamente invasivos. Ainda presenciaremos grandes evoluções neste sentido
Ela ressaltou o crescimento de técnicas como tratamentos regenerativos e procedimentos minimamente invasivos.
Especialização em pé e tornozelo: motivação e desafios
Após já ter atuado como ortopedista geral, a Dra. Natália se especializou em pé e tornozelo no INTO, onde foi bem recebida, construiu amizades valiosas e teve um aprendizado enriquecedor.
O maior desafio foi ter que retornar a ser residente após já ter um consultório bem estabelecido, mas realmente fiquei muito feliz com minha escolha.
Ela também trouxe à tona sua introdução ao tratamento por ondas de choque, que considera essencial para sua prática:
Desde a faculdade, através da minha mãe Fisiatra, tive a oportunidade… de conhecer e estudar o tratamento por ondas de choque. Este tratamento atrai muitos pacientes com alterações do pé e tornozelo e notei que complementaria e muito a minha prática.
Hoje não tenho dúvidas da assertividade desta decisão
Projetos e medicina regenerativa: o futuro da ortopedia
Atualmente, a Dra. Natália está concentrada na medicina regenerativa, um tema que a fascina desde a faculdade.
Fui fortemente influenciada a estudar o tema uma vez que tive a oportunidade de conhecer as ondas de choque. Não havia como negar os benefícios e a eficácia dos tratamentos ortobiológicos (plasma rico em plaquetas, aspirado de medula óssea, por exemplo).
Esses tratamentos vieram para ficar
Com isso, ela dedica parte de seu tempo para estudar e quem sabe produzir publicações relevantes, que nos ajudem a esclarecer e direcionar as melhores indicações e preparações destas técnicas.
A experiência de ser mulher na ortopedia: superando desafios
Ao refletir sobre sua experiência como mulher em um campo majoritariamente masculino, a Dra. Natália não hesitou em compartilhar:
Tive algumas experiências ruins ao longo da minha trajetória, na residência com certeza foi a pior fase. Apesar disso, é importante ressaltar que ainda ocorrem inúmeras situações difíceis para as mulheres ortopedistas.
No entanto, ela enxerga progresso:
Atualmente, recebo pacientes que preferem ser atendidos por uma mulher ortopedista.
Além disso, mencionou a fundação da AMOB – Associação das Mulheres Ortopedistas do Brasil, que busca facilitar a experiência de mulheres e estudantes na ortopedia.
“Por se tratar de um ambiente muito masculino, é mais fácil se destacar e ser lembrada”
Atualmente recebo pacientes que até preferem ser atendidos por uma mulher ortopedista com letre legível
Hoje a presença da mulher na ortopedia, não só é uma realidade, como também é notável. No meu próprio ano de residência já haviam serviços que as mulheres ocupavam todas as vagas de R1.
Ações como esta do PORTAL DA ORTOPEDIA e as da AMOB em ajudar a divulgar a presença da mulher na ortopedia, são importantes.
No Brasil ainda existem colegas que desencorajam as acadêmicas a buscarem a residência de ortopedia.
Conselhos para as novas gerações: a voz da experiência
Quando questionada sobre conselhos para estudantes de medicina, a Dra. Natália ofereceu palavras encorajadoras:
É uma excelente especialidade com opções cirúrgicas e clínicas, permitindo que durante a residência você consiga observar todas as possibilidades e, se direcione para a que mais se encaixa em seu perfil. É uma especialidade bastante versátil
Sobre as habilidades essenciais para uma ortopedista de sucesso, ela afirmou:
A ortopedia lida com pacientes com dor o tempo todo, por isso considero que seja necessário empatia e paciência, além de gostar de conversar com os pacientes para um maior sucesso na profissão.
Por fim, um conselho valioso para quem está começando:
Aproveitem o momento da residência para conhecer as mais diversas possibilidades que a ortopedia pode oferecer e, evitem ouvir apenas uma opinião
Utilizem cada oportunidade possível para visitar e frequentar os mais diversos serviços e eventos logo cedo.
Puxem assunto com os médicos que admiram, visitem os stands durante os congressos e sejam curiosas.
… A dica de ouro que eu recebi quando era residente foi
‘não se apresse pra fazer r4’,
foi a melhor até hoje para a minha formação.
Por fim e não menos importante, curta o processo e não esqueçam de tirar férias de vez em quando.
A Dra. Natália Mourão é um exemplo notável de perseverança e paixão pela medicina, e seu trabalho continua a inspirar novas gerações de ortopedistas, especialmente mulheres que sonham em trilhar este caminho.
Neste dia especial, reconhecemos o trabalho incansável dos ortopedistas e sua dedicação em proporcionar saúde e bem-estar. Que as lições e insights compartilhados pela Dra. Mourão inspirem tanto profissionais quanto pacientes a abraçar as inovações no cuidado ortopédico e a valorizar cada vez mais essa especialidade vital. Feliz Dia do Ortopedista!